Perguntas de um operário que lê
Bertold Brecht
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu?
Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros?
A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem
Triunfaram os Césares?
A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes?
Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sòzinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas.
ESTA PÁGINA NÃO TEM:
Os milhões do Programa Operacional da Cultura da União Europeia;
Os milhões das Autarquias, dos bancos e dos grandes construtores civis;
Os Acessores e Técnicos de Informática dos Ministérios e das empresas...
Por isso é bastante modesta, mas pode ser melhor, se tu quiseres.
LIÇÃO DE ANTÓNIO ALEIXO
EXTRACTO DO "AUTO DO TI JAQUIM"
Barbeiro:
Vejo no que tenho lido
Que o mundo foi sempre assim;
E creio que, até ao fim,
Há-de ser como tem sido.
Será ou não, ti Jaquim?
Ti Jaquim:
Rapaz, isso é desalento
De quem já não quer viver:
Toda a vida é movimento,
Parar seria morrer.
Mas há quem veja ao avesso
Daquilo que vos exponho,
Preso ao terrível sonho
De que o mal vem do progresso.
Usa mais este processo
Quem tem o viver risonho.
(...)
Aleixo é conhecido pelas suas quadras dispersas, populares e acutilantes, mas poucos sabem que também nos deixou Autos (mini peças de teatro em verso, lembrando Gil Vicente). Este extracto é de um auto com mais de 60 anos, mas que se revela actual.
ESTADO PORTUGUÊS NÃO CUMPRE CONVENÇÃO PARA A BIODIVERSIDADE
Com 7 plantas que apenas existem em Portugal em perigo de extinção, os "nossos" dirigentes, (tal como fazem os da União Europeia e de muitos outros países) não fizeram até agora um documento que identifique as espécies vegetais em perigo de extinção. Também não criaram qualquer banco de sementes a este propósito, mas apenas um com interesse lucrativo.
As 7 espécies, segundo especialistas são: narciso-do-mondego, miosótis-das-praias, diabelha-do-algarve, diabelha-do-almograve, alcácer-do-algarve, corriola-do-espichel e a limaria ricardi. E quantas mais haverá!
O Estado não cumpre as próprias normas, regras, leis que cria ou as convenções que subscreve com outros países ou organizações.
«CLIMA CULTURAL» - Loja cidadão Faro
"Multiplicam-se os sinais" da imposição por parte do Estado, dum determinado "clima cultural"...
disse um velho deputado do Parlamento português (e também poeta) que todos conhecem ultimamente como o que dá no seu partido o ar de esquerda e de inconformismo perante esta ditadura. Isso a propósito da proibição de usar saias curtas, decotes e perfumes agressivos, na Loja do Cidadão de Faro.
Há que contrapor um CLIMA CULTURAL novo em todas as áreas e por todo o lado.
disse um velho deputado do Parlamento português (e também poeta) que todos conhecem ultimamente como o que dá no seu partido o ar de esquerda e de inconformismo perante esta ditadura. Isso a propósito da proibição de usar saias curtas, decotes e perfumes agressivos, na Loja do Cidadão de Faro.
Há que contrapor um CLIMA CULTURAL novo em todas as áreas e por todo o lado.
NOVAS ESPÉCIES DESCOBERTAS
DESCOBERTAS NOVAS ESPÉCIES DE ANIMAIS E PLANTAS
NA PAPUA-NOVA GUINÉ
Numa região ainda longe da poluição e destruição do homem, as montanhas e vales de Kaijende, foram descobertas 56 novas espécies de animais e plantas, tais como rãs exóticas, aranhas saltadoras, mais duas plantas e um geco (pequeno lagarto trepador). As espécies foram encontradas já no Verão passado, mas só agora acabaram de ser estudadas e catalogadas. Têm sido por ali descobertas nos últimos anos muitas outras espécies e sub-espécies, continuando a zona ainda preservada.
Darwin, cujo bicentenário do seu nascimento é este ano comemorado, devia ficar satisfeito com estas descobertas, pois foi ele quem sistematizou a teoria da evolução das espécies.
Deve-se destacar a actualidade do darwinismo, que revolucionou essencialmente a biologia, mas também a antropologia, a filosofia, dando uma machadada no idealismo primário da teologia…
Tudo teve de passar pelas teses de Darwin para o desenvolvimento da biologia molecular e genética dos nossos dias, para além doutras vertentes científicas. Esse cientista, pesquisador e materialista naturalista foi um daqueles em quem Engels e Marx se fundamentaram nos seus estudos e formação da teoria científica jovem e actual que é o materialismo dialéctico.
Março/Abril 2009
NA PAPUA-NOVA GUINÉ
Numa região ainda longe da poluição e destruição do homem, as montanhas e vales de Kaijende, foram descobertas 56 novas espécies de animais e plantas, tais como rãs exóticas, aranhas saltadoras, mais duas plantas e um geco (pequeno lagarto trepador). As espécies foram encontradas já no Verão passado, mas só agora acabaram de ser estudadas e catalogadas. Têm sido por ali descobertas nos últimos anos muitas outras espécies e sub-espécies, continuando a zona ainda preservada.
Darwin, cujo bicentenário do seu nascimento é este ano comemorado, devia ficar satisfeito com estas descobertas, pois foi ele quem sistematizou a teoria da evolução das espécies.
Deve-se destacar a actualidade do darwinismo, que revolucionou essencialmente a biologia, mas também a antropologia, a filosofia, dando uma machadada no idealismo primário da teologia…
Tudo teve de passar pelas teses de Darwin para o desenvolvimento da biologia molecular e genética dos nossos dias, para além doutras vertentes científicas. Esse cientista, pesquisador e materialista naturalista foi um daqueles em quem Engels e Marx se fundamentaram nos seus estudos e formação da teoria científica jovem e actual que é o materialismo dialéctico.
Março/Abril 2009
O Relógio (pequeno conto duriense)
O RELÓGIO
Adaptação de acontecimentos verídicos
Nas primeiras décadas do século XX, raros eram os trabalhadores agrícolas das aldeias vinhateiras do Douro que usavam relógio.
O trabalho agrícola no Verão, em determinada zona, era feito essencialmente desde a madrugada, assim que o dia começava a clarear, até às 13 horas e 30 minutos, com uma pequena paragem para almoço, se é que assim se podia chamar aquela pequena refeição.
*
Maria Antónia acabava de chegar à quinta, acompanhada por alguns colegas de trabalho, homens e mulheres, já os esperava um capataz que, logo a resmungar, criticou a atitude mais vagarosa de alguns dos trabalhadores. Tal como os outros, Antónia fizera já cerca de três quilómetros a pé, de casa até ali.
- Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo (diz o Toino Joaquim, um pouco malicioso).
- Hoje vocês vão ver se saímos à hora certa, ou não !... – diz a Antónia em voz alta para os seus colegas – não hão-de brincar mais comigo !
- Não tens “papas na língua”, qualquer dia não te dão trabalho… (Manuel à boca pequena).
- Ela tem sempre trabalho porque faz tanto ou mais que um homem… (Joaquim).
- É pequenina, a Antónia… (Manuel).
- A mulher e a sardinha, querem-se pequenas… (Joaquim de novo).
*
Entregam-se ao trabalho, após mais uma repreensão do capataz.
As horas vão passando e o calor começa a apertar.
Param pouco depois das 10 horas e, enquanto comem um bocado de toucinho ou uma sardinha com pão e vinho, vão conversando.
- Esta água-pé que aqui trazem está cada vez mais envinagrada …(Joaquim).
- Pudera, vinho que vai para vinagre, não arrepia caminho, é como o capataz, está cada vez mais azedo.
Entretanto o Joaquim, desconfiando serem já mais perto das 11 horas do que das 10, como lhes dissera o capataz, faz a sua experiência, improvisando um relógio de sol, com um pau espetado no chão, analisando a direcção da sombra e procurando uma colina conhecida que lhe sirva de referência para saber dum ponto cardeal.
Para ele, são já mais de 11 horas.
Os outros, com receio, tentam disfarçar a experiência, de modo a que o capataz não se aperceba, enquanto que a Antónia, mais para os seus botões do que para os circundantes riposta:
- Eu sei bem que horas são…
- Ná… isto aqui anda moiro na costa (diz o Manuel referindo-se à Antónia).
*
Regressam às enxadas e às outras alfaias com que trabalham.
O sol torna-se agora abrasador, o cansaço, a sede e a fome aumentam.
Os trabalhadores perscrutam insistentemente, a ver se o capataz ou o patrão aparecem para terminarem a jornada de trabalho e regressarem a casa.
Um ou dois começam a murmurar, achando que passa já muito da uma e meia da tarde.
Até que estala a discussão entre o capataz que por ali passa e a Antónia.
O capataz , querendo com um gesto demonstrar que ainda não está na hora, pega na corrente dourada, retira do bolso o seu relógio, olha para ele com toda a calma e informa os trabalhadores:
- É uma hora e um quarto !
De imediato a Antónia avança em direcção ao capataz, coloca a perna direita mais à frente, levanta a saia desse lado e logo se descobre, para espanto de todos, um relógio atado à perna por um fio. A resposta é imediata:
- Só se for no seu (relógio), porque no meu já passa das duas horas !
O capataz, desorientado, manda o pessoal embora, dentro de alguma agitação.
*
No regresso a casa, subindo agora os cerca de três quilómetros sob o sol escaldante, os trabalhadores vão comentando o sucedido e dando vivas à Antónia.
No dia seguinte, ao chegar à quinta, a Antónia é recebida pelo patrão que lhe diz de rompante:
- Vai procurar outro patrão, porque na minha casa não há-de trabalhar mulher que use relógio !
*
A partir desse dia, pelo menos naquela quinta, passou a cumprir-se o horário de trabalho.
Adaptação de acontecimentos verídicos
Nas primeiras décadas do século XX, raros eram os trabalhadores agrícolas das aldeias vinhateiras do Douro que usavam relógio.
O trabalho agrícola no Verão, em determinada zona, era feito essencialmente desde a madrugada, assim que o dia começava a clarear, até às 13 horas e 30 minutos, com uma pequena paragem para almoço, se é que assim se podia chamar aquela pequena refeição.
*
Maria Antónia acabava de chegar à quinta, acompanhada por alguns colegas de trabalho, homens e mulheres, já os esperava um capataz que, logo a resmungar, criticou a atitude mais vagarosa de alguns dos trabalhadores. Tal como os outros, Antónia fizera já cerca de três quilómetros a pé, de casa até ali.
- Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo (diz o Toino Joaquim, um pouco malicioso).
- Hoje vocês vão ver se saímos à hora certa, ou não !... – diz a Antónia em voz alta para os seus colegas – não hão-de brincar mais comigo !
- Não tens “papas na língua”, qualquer dia não te dão trabalho… (Manuel à boca pequena).
- Ela tem sempre trabalho porque faz tanto ou mais que um homem… (Joaquim).
- É pequenina, a Antónia… (Manuel).
- A mulher e a sardinha, querem-se pequenas… (Joaquim de novo).
*
Entregam-se ao trabalho, após mais uma repreensão do capataz.
As horas vão passando e o calor começa a apertar.
Param pouco depois das 10 horas e, enquanto comem um bocado de toucinho ou uma sardinha com pão e vinho, vão conversando.
- Esta água-pé que aqui trazem está cada vez mais envinagrada …(Joaquim).
- Pudera, vinho que vai para vinagre, não arrepia caminho, é como o capataz, está cada vez mais azedo.
Entretanto o Joaquim, desconfiando serem já mais perto das 11 horas do que das 10, como lhes dissera o capataz, faz a sua experiência, improvisando um relógio de sol, com um pau espetado no chão, analisando a direcção da sombra e procurando uma colina conhecida que lhe sirva de referência para saber dum ponto cardeal.
Para ele, são já mais de 11 horas.
Os outros, com receio, tentam disfarçar a experiência, de modo a que o capataz não se aperceba, enquanto que a Antónia, mais para os seus botões do que para os circundantes riposta:
- Eu sei bem que horas são…
- Ná… isto aqui anda moiro na costa (diz o Manuel referindo-se à Antónia).
*
Regressam às enxadas e às outras alfaias com que trabalham.
O sol torna-se agora abrasador, o cansaço, a sede e a fome aumentam.
Os trabalhadores perscrutam insistentemente, a ver se o capataz ou o patrão aparecem para terminarem a jornada de trabalho e regressarem a casa.
Um ou dois começam a murmurar, achando que passa já muito da uma e meia da tarde.
Até que estala a discussão entre o capataz que por ali passa e a Antónia.
O capataz , querendo com um gesto demonstrar que ainda não está na hora, pega na corrente dourada, retira do bolso o seu relógio, olha para ele com toda a calma e informa os trabalhadores:
- É uma hora e um quarto !
De imediato a Antónia avança em direcção ao capataz, coloca a perna direita mais à frente, levanta a saia desse lado e logo se descobre, para espanto de todos, um relógio atado à perna por um fio. A resposta é imediata:
- Só se for no seu (relógio), porque no meu já passa das duas horas !
O capataz, desorientado, manda o pessoal embora, dentro de alguma agitação.
*
No regresso a casa, subindo agora os cerca de três quilómetros sob o sol escaldante, os trabalhadores vão comentando o sucedido e dando vivas à Antónia.
No dia seguinte, ao chegar à quinta, a Antónia é recebida pelo patrão que lhe diz de rompante:
- Vai procurar outro patrão, porque na minha casa não há-de trabalhar mulher que use relógio !
*
A partir desse dia, pelo menos naquela quinta, passou a cumprir-se o horário de trabalho.
Quando eu nasci
Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade.
Almada Negreiros
Almada Negreiros
Textos
VEJAM ESTE TEXTO SOBRE OS PROFESSORES, A ESCOLA, ETC
(Extracto dum texto de autor brasileiro)
(Extracto dum texto de autor brasileiro)
… descobrimos que nós, professores, somos trabalhadores, e trabalhadores que produzem uma mercadoria muito especial, que é o coração do capitalismo, pois é a única que tem a propriedade de criar valor (mais-valia): a força de trabalho. Somos trabalhadores que produzem trabalhadores. O Capital soube incorporar a educação à sua lógica, de forma a criar sistemas de ensino que funcionam como empresas produtoras de trabalhadores em série, para atender às demandas de mão-de-obra do mercado para a acumulação de Capital.
O professor exerce esse trabalho, incutindo nos alunos as duas características básicas da força de trabalho: a disciplina e as qualificações. Como o processo capitalista de trabalho é um processo de exploração, ele exige uma dose igual de opressão sobre o proletário empregado como “mercadoria viva”. A escola entra como uma instituição disciplinar e repressiva na medida em que interioriza no aluno, desde criança, a obediência a hierarquias, horários, controles de presença, notas e o desempenho de tarefas pré-determinadas, quantificadas, etc. E depois, atua como qualificadora, na medida em que habilita o aluno, como futuro trabalhador, a exercer trabalho mais simples ou mais complexo (o aluno aprendendo mais ou menos habilidades). Sendo assim, o trabalhador mais qualificado exerce trabalho mais complexo e produz muito mais valor (mais-valia) do que o trabalhador menos qualificado. Dessa maneira, o sistema de ensino vira um espelho das exigências do mercado de trabalho. Como este possui, cada vez mais hoje, uma hierarquia onde uma minoria cada vez mais reduzida de trabalhadores exerce trabalho produtivo qualificado (e por conseqüência bem remunerado e com direitos), e uma maioria composta de trabalhadores precarizados, terceirizados e mal remunerados (de menor qualificação), ou mesmo desempregados, o sistema de ensino passa a refletir essa hierarquia. As universidades e as escolas técnicas formam o primeiro grupo, mais qualificado e restrito, e o ensino público de massas forma o segundo grupo, dos precarizados e do exército de reserva (segue daí que quanto mais se expande o número de pessoas com diploma, a oferta de força de trabalho cresce em relação à demanda e os salários se tornam mais baixos). A deterioração das condições de trabalho da maioria da população se reflete na deterioração das condições da escola pública. A tão alardeada “educação universal” ou o discurso da educação para todos, que os governos defendem, em nenhum momento diz que essa educação deva ser de nível igual para todos.
Como podemos ver, nós professores das escolas públicas somos, na verdade, trabalhadores produtivos (proletários). Embora juridicamente nosso empregador seja o Estado, na medida em que produzimos trabalhadores (o “capital humano”), estamos inseridos na cadeia de produção das empresas que os empregam (telemarketing, indústrias, supermercados, etc); e nosso trabalho é produtor de mais-valia, uma vez que é organizado segundo as relações de trabalho e a lógica de empresa. Isso explica também porque cada vez mais é aplicada na escola a lógica de empresa em sua organização interna. Não é o estatuto jurídico que determina se há ou não exploração ou geração de valor, mas o lugar ocupado no processo de produção e a forma de organização do trabalho. Ou seja, o professor da escola pública também é explorado, como o da escola privada (embora na escola privada esta exploração seja mais intensa e com menos proteção trabalhista). O Estado (no sentido de estado restrito, nacional) não se apresenta como uma esfera externa à valorização do capital, mas como um aparelho que faz parte dela, é um momento dela, e está inserido nos ciclos de produção e reprodução do valor.
As escolas são cada vez mais invadidas pela lógica de produção de mercadorias, e nosso trabalho é organizado como na indústria. Cada vez mais as tarefas são padronizadas rigidamente e nosso trabalho é medido e avaliado quantitativamente. A escola está sendo “taylorizada” (taylorismo é o sistema tradicional de gestão de indústria, extremamente opressivo, do qual o “toyotismo” é só um derivado), e é invadida por um surto quantitativista, onde a última panacéia é a “avaliação de desempenho” e a “meritocracia” (antes predominava uma organização burocrática de cunho fayloista [baseado na administração segundo Henri Fayol], mas o aspecto quantitativo do taylorismo tem sido reforçado). Os diretores são transformados em gestores e tem um poder repressivo de controle reforçado. Cada vez mais somos realmente operários. Nossas tarefas são padronizadas como numa indústria e somos despojados de qualquer controle sobre nossas condições de trabalho (a padronização de currículos e materiais nada mais é do que isso, o sistema Taylor aplicado na educação). O aumento da pressão por disciplina e resultados dentro duma escola significa o mesmo que aumentar a velocidade de uma linha de montagem. A opressão das condições de trabalho cresce tanto que os professores desencadeiam uma série de mecanismos defensivos para não serem destruídos fisicamente – faltas (absenteísmo), licenças médicas, trabalhar mais devagar, “macetes”, etc. Tal processo é idêntico à resistência generalizada que ocorre dentro de fábricas, onde os operários espontaneamente derrubam a intensidade e velocidade da produção como forma de resistência à exploração e intensificação do trabalho.
O professor exerce esse trabalho, incutindo nos alunos as duas características básicas da força de trabalho: a disciplina e as qualificações. Como o processo capitalista de trabalho é um processo de exploração, ele exige uma dose igual de opressão sobre o proletário empregado como “mercadoria viva”. A escola entra como uma instituição disciplinar e repressiva na medida em que interioriza no aluno, desde criança, a obediência a hierarquias, horários, controles de presença, notas e o desempenho de tarefas pré-determinadas, quantificadas, etc. E depois, atua como qualificadora, na medida em que habilita o aluno, como futuro trabalhador, a exercer trabalho mais simples ou mais complexo (o aluno aprendendo mais ou menos habilidades). Sendo assim, o trabalhador mais qualificado exerce trabalho mais complexo e produz muito mais valor (mais-valia) do que o trabalhador menos qualificado. Dessa maneira, o sistema de ensino vira um espelho das exigências do mercado de trabalho. Como este possui, cada vez mais hoje, uma hierarquia onde uma minoria cada vez mais reduzida de trabalhadores exerce trabalho produtivo qualificado (e por conseqüência bem remunerado e com direitos), e uma maioria composta de trabalhadores precarizados, terceirizados e mal remunerados (de menor qualificação), ou mesmo desempregados, o sistema de ensino passa a refletir essa hierarquia. As universidades e as escolas técnicas formam o primeiro grupo, mais qualificado e restrito, e o ensino público de massas forma o segundo grupo, dos precarizados e do exército de reserva (segue daí que quanto mais se expande o número de pessoas com diploma, a oferta de força de trabalho cresce em relação à demanda e os salários se tornam mais baixos). A deterioração das condições de trabalho da maioria da população se reflete na deterioração das condições da escola pública. A tão alardeada “educação universal” ou o discurso da educação para todos, que os governos defendem, em nenhum momento diz que essa educação deva ser de nível igual para todos.
Como podemos ver, nós professores das escolas públicas somos, na verdade, trabalhadores produtivos (proletários). Embora juridicamente nosso empregador seja o Estado, na medida em que produzimos trabalhadores (o “capital humano”), estamos inseridos na cadeia de produção das empresas que os empregam (telemarketing, indústrias, supermercados, etc); e nosso trabalho é produtor de mais-valia, uma vez que é organizado segundo as relações de trabalho e a lógica de empresa. Isso explica também porque cada vez mais é aplicada na escola a lógica de empresa em sua organização interna. Não é o estatuto jurídico que determina se há ou não exploração ou geração de valor, mas o lugar ocupado no processo de produção e a forma de organização do trabalho. Ou seja, o professor da escola pública também é explorado, como o da escola privada (embora na escola privada esta exploração seja mais intensa e com menos proteção trabalhista). O Estado (no sentido de estado restrito, nacional) não se apresenta como uma esfera externa à valorização do capital, mas como um aparelho que faz parte dela, é um momento dela, e está inserido nos ciclos de produção e reprodução do valor.
As escolas são cada vez mais invadidas pela lógica de produção de mercadorias, e nosso trabalho é organizado como na indústria. Cada vez mais as tarefas são padronizadas rigidamente e nosso trabalho é medido e avaliado quantitativamente. A escola está sendo “taylorizada” (taylorismo é o sistema tradicional de gestão de indústria, extremamente opressivo, do qual o “toyotismo” é só um derivado), e é invadida por um surto quantitativista, onde a última panacéia é a “avaliação de desempenho” e a “meritocracia” (antes predominava uma organização burocrática de cunho fayloista [baseado na administração segundo Henri Fayol], mas o aspecto quantitativo do taylorismo tem sido reforçado). Os diretores são transformados em gestores e tem um poder repressivo de controle reforçado. Cada vez mais somos realmente operários. Nossas tarefas são padronizadas como numa indústria e somos despojados de qualquer controle sobre nossas condições de trabalho (a padronização de currículos e materiais nada mais é do que isso, o sistema Taylor aplicado na educação). O aumento da pressão por disciplina e resultados dentro duma escola significa o mesmo que aumentar a velocidade de uma linha de montagem. A opressão das condições de trabalho cresce tanto que os professores desencadeiam uma série de mecanismos defensivos para não serem destruídos fisicamente – faltas (absenteísmo), licenças médicas, trabalhar mais devagar, “macetes”, etc. Tal processo é idêntico à resistência generalizada que ocorre dentro de fábricas, onde os operários espontaneamente derrubam a intensidade e velocidade da produção como forma de resistência à exploração e intensificação do trabalho.
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